sábado, 8 de junho de 2013

Sobre a relação das nádegas e a informação

O que será que aconteceria se todos se dispusessem a levantar suas acomodadas nádegas de seus respectivos confortáveis assentos para sair e ver de perto, e com os próprios olhos, o que acontece por aí? Só dar uma espiadinha... E se quem não viu não pudesse falar sobre e quem não viveu não pudesse opinar sobre? E se quem ouve de quem não viu não acreditasse, ou quem não viu não perguntasse para quem não viveu? Talvez quem queira saber, mesmo que mais ou menos, não corresse o risco de ouvir de quem perguntou a quem não viveu, um opinião formada por quem não viveu, moldada aos ouvidos de quem perguntou, mutilada pela preguiça de quem quis saber mais ou menos... E se, para facilitar, isso tudo fosse escrito para que muitos pudessem ler? Quem poderia escrever?

quarta-feira, 27 de março de 2013

Seja lá quem tenha passado por aqui...


       Constatei há 20 dias, ao preço de uma profunda ferida aberta, que as pessoas, nômades ou não, deixam impressões muito emblemáticas de sua passagem pelos lugares onde estiveram. Obviamente, e infelizmente para mim, os sedentários têm muito mais tempo para isso. Sobre as estas impressões, percebi algo de muito especial nas marcas deixadas nas paredes, sobretudo as não intencionais, podemos saber onde se pendurou um quadro, onde o móvel batia, onde se encostava a pessoa pensativa, algumas vezes encontramos um lápis de cor vermelho em algum momento dessa história, achamos momentos de raiva, de descuido, de manias… E como é dolorido deparar-se com um quarto no qual uma pessoa, que faz falta, transborda amarelecida pelas paredes.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Eu queria ser jogador de futebol, ter minha atuação discutida e lembrada por milhões de pessoas, ter grandes espaços e estruturas onde meu trabalho fosse exibido aos muitos interessados, ter eventos municipais, estaduais, nacionais e mundiais onde eu pudesse presenciar o desenvolvimento do trabalho dos demais colegas ao redor do mundo, ser premiado pelo governo pela minha atuação, ser considerado alguém importante para a sociedade pelo o que eu faço, ter um salário generoso e ser considerado digno de patrocínio, ter espaço na mídia ao menos duas vezes por semana para mostrar meu trabalho, receber por fazer o que gosto, ser celebrado por conta de uma conquista, ter países disputando para poder sediar um evento para o meu ofício, ter o interesse de quem desenvolve aparatos tecnológicos que tornam meu trabalho mais "justo" e preciso, poder vender lembranças relacionadas ao meu trabalho, não precisar estudar em um sistema de educação tão falho para poder exercer meu ofício, ser premiado por um político (ainda que corrupto, ué, aconteceu e eu queria que fosse comigo!) com carros, ter miniaturas minha e dos meus colegas em promoções de refrigerante, ter canais na TV a cabo dedicados ao meu trabalho, ser notícia, poder receber ajuda de um programa de TV para emagrecer caso eu engorde muito, ter médicos e fisioterapeutas no meu trabalho, poder ter meu público perdoado pelo resto da população caso ele se exalte numa possível atuação extraordinária minha, ter reservas caso eu me machuque, vender ingressos caros para que o público possa me assistir ao vivo, ser motivo de paralisações no trabalho e nas escolas para que ele possam apreciar minha atuação num evento mundial, poder representar meu país (e não deixar que outros o façam), poder me aposentar aos 30, ter certeza de que não há ninguém no meu país maior que 4 anos de idade que não saiba o que é aquilo que eu faço, ter alguém procurando pelo meu talento, ter jogos simulando o que eu faço, ter crianças fingindo ser eu brincando de fazer o que eu faço, ser chamado para trabalhar lá fora, ser disputado para não ser levado para fora, ter gente encarregada de fazer vastas estatísticas sobre o meu trabalho... Pelo menos aqui no Brasil eu queria...

terça-feira, 21 de agosto de 2012

O mofo

O mofo tem um comportamento interessante, ele escolhe um lugar próprio para ele, não importa se ele é indesejado naquele lugar, e cresce, se reproduz, vai crescendo sobre ele mesmo, pode até crescer muito, mas nunca sua distribuição será pouco densa, só se espalhará muito se muito dele existir. Aqueles que crescem fora desta ordem acabam morrendo mais rapidamente. Ele estraga (para alguns) o ambiente onde ele cresce, se é na comida, ninguém mais come (além dele próprio), se é no armário, cheiram mal as roupas (ele mesmo não se importa), se são as paredes, rinite... No entanto, o mofo é frágil, só cresce por descuido de alguém (salvo casos específicos), não tem medo de incomodar, das conseqüências de incomodar alguém com o poder de passar-lhe um pano úmido, simplesmente por que ele não pensa. E que bom que ele não pensa, seria muito perigoso, ou não, encontraria quem pensasse com ele para manter-se vivo. Mas ainda acho que um mofo que pensa seria potencialmente perigoso. O mofo me lembra alguém(ns)...

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

No transporte público

     Outro dia eu sonhei que estava num ônibus, eu estava sentado, no banco da frente havia um senhor que falava sobre como a iluminação das flores, daquela rua onde passávamos, estava prejudicada. Ele falava isso a uma mulher que ouvia com uma atenção inabalável. Ouviu por um bom tempo até que seu ponto chegou e ela, com medo de interromper o senhor, tentou alertá-lo de que não poderia mais continuar a ouvir seu discurso, mas como o senhor discorria olhando seu assunto pela janela, ela não teve sucesso. Estranhamente, ela desceu sem avisá-lo de nada. O senhor falou por mais alguns instantes até se dar conta de que sua ouvinte já não estava presente. Ele gaguejou um pouco, olhou em volta... Vendo aquilo, eu logo me apresentei perguntando: "Mas qual é o problema que acontece com a iluminação?". O senhor logo retomou seu discurso quando em seguida meu despertador tocou e eu acordei. A primeira coisa que pensei: "Ah não! Deixei o senhor falando sozinho!". Alguns segundos depois eu dei risada, fazia tempo que eu não acordava rindo!

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Pão e circo, Feijão e Futebol!

Vou confessar algo, quando eu era criança, todos os adultos que exerciam alguma influência sobre mim, ou seja, todos que me faziam rir de alguma maneira, me fizeram torcer para times diferentes. Muito ironicamente já fui palmeirense e corinthiano num mesmo dia... O último a me persuadir foi meu tio, meu último time foi o Corinthians (oh! Passou o espanto? Posso seguir?). Mas isso só cito por que este texto foi inspirado num "saco-cheio" que os corinthianos me causaram agora por soltar rojões sobre um EM-PA-TE (não que eu aceite rojões neste horário se eu não puder ouvir meu som alto também) ... Enfim, a última vez que me lembro de me divertir com futebol foi numa copa do mundo, a de 98, aquilo era uma ótima desculpa para eu estrapolar os meus costumes de criação oriental e poder berrar a cada gol que acontecia, que criança não gosta de sair correndo e berrando por aí com um ensejo que o permita não ser censurado por seus pais? Depois disso eu fiquei de saco cheio. Fui me interessando por outras coisas, natural. Mas isso não parou por aí, pois "aí" vem uma copa do mundo, e o imposto que se paga vai virar obra para a copa, enquanto durante uma apresentação que visa promover a música contemporânea (sim, eu puxo a sardinha mesmo!), o próprio apresentador pára para perguntar "e aí, muito estranho?", enquanto nós temos sérios problemas se não tivermos plano de saúde. Aliás, por que mesmo que o Lula não tratou o câncer dele no sistema público de saúde que ele deixou para nós, pessoas do povo "como ele"? Será que ele não confia na "companheira" Dilma? Ai Lula, tu és corinthiano "né não"? Ou nem tanto assim? Mas deixando a raiva de lado um pouco, eu penso, qual é mesmo a graça de ver um monte de jogadores se esforçando (ganhando muito melhor que os professores, só dizendo...) e conquistando coisas para eles e ABSOLUTAMENTE NADA para nós? Nós somos "pentacampeões"? Eu não, não fiz nada para isso... Aliás, fiz sim! Paguei imposto! Sim, sou Pentacampeão! Nossa que alegria... Tá, eu falei que ia deixar a raiva de lado... Eu tenho mais com o que me preocupar do que torcer para alguém que depende do meu tempo, do meu dinheiro, da minha atenção e outras coisas que estar sentado não pensado/produzindo implicam. O problema é de quem assiste... Quem se incomoda que se retire... Pois é, agora alguém me entende? Não pretendo achar onde isso não aconteça, mas não se mexer quando a coisa está dando errado, para mim, é covardia.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Deslumbramento e Preconceito (sim, boba alusão!)

É incrível como num meio universitário, lugar onde supostamente o conhecimento é gerado (segurem suas risadas, alguém pode estar por perto...), muitos dos discursos estão imbuídos de deslumbramento e preconceito (claro, muitas outras virtudes além dessas eu poderia enumerar, mas me ocorrem essas por ora). Nada é como estar enamorado de um ideal que lhe permita escolher/defender um posicionamento claro e bastante definido (obviamente pensado, sofrido, vivenciado e refletido por outra pessoa, mas isso não vem ao caso), no entanto, muitas vezes me flagrei (e a muitos outros) acomodado apenas apontando para os outros já que eu, estabelecido em meu ponto de vista, comodamente poderia sentir que os outros procuravam lugar para sentar enquanto eu já havia "sentado". Mas eu, inocentemente, demorei um pouco para desconfiar do porquê de eu já estar "sentado" e assim que essa desconfiança surgiu, muitas outras: "No quê eu estou sentado?", "Existirão 'assentos' melhores?", "haverá algo de errado com este 'assento'?" (os usuários do metrô me entenderão perfeitamente)... Esse anseio por "sentar-se" logo e para então poder preocupar-se com "outra coisa" me soa... Fácil, ou melhor, facilitador. Mas eu falava do "vagão" e não dos "assentos"... Recentemente comecei a sentir dificuldade em delimitar quais foram as causas do meu preconceito (que só por sê-lo, para mim não é mais nem menos que o dos outros, simplesmente é). Logo vi que era uma digressão um tanto pretensiosa, mas ainda assim... Lembrei de tantos episódios entalhados na minha memória onde me vi julgado sob diversos pretextos absurdos mas que até hoje, mesmo que espasmodicamente, me assediam o trato. Muitas dessas cenas envolvem professores... Mas eu falava dos "vagões", que nada mais são do que grandes espaços que de dentro aparentam ser pequenos e não são nada muito além disso. Por algum motivo estranho, dentro do vagão, muitos tentam ensandecidamente sentar-se em algum banco e isso torna a convivência lá dentro muito mais conturbada... Acho que devo me calar, alguém pode estar por perto...